– Post do antigo Blog Rapadura – 10/04/2013.
A guitarra é um sinônimo de transgressão, rebeldia e liberdade. Seus riffs e solos impactaram gerações e geraram uma horda de heróis ao longo das décadas. Neste post, vou listar os meus cinco guitarristas preferidos. Não tenho nenhum critério, não sigo nenhuma regra, a ordem aqui é dizer (na minha modesta opinião) quem empunhou a guitarra com a petulância inovadora e revolucionaria que caracterizam este instrumento.
E antes que muita gente possa rasgar o “famigerado” com a unha, vou repetir que se trata de um lista pessoal, que o espaço de comentários está aberto para externar a sua preferencia por algum nome que ficou de fora.
Obs: No final deste post, tem o top 5 de alguns dos guitarristas mais perigosos do velho oeste Vespasianense.
1º Lugar: Jimmy Page (Led Zeppelin)
James Patrick Page – 09/01/1944 – Heston (ING)
Como eu gosto de causar a discórdia, já vou logo começando com um cara obrigatoriamente no TOP 5, mas que nem sempre ocupa a posição de honra.
Não bastasse ter passado a sua adolescência nas companhias de Eric Clapton e Jeff Beck, o jovem Page não se tornou apenas um grande guitarrista, como inconscientemente arquitetou o som que viria a revolucionar o Rock.
Os tempos de prodígio de estúdios, quando gravou guitarra em diversas bandas da época (incluindo The Who e The Kinks), e os tempos de Yardbirds e suas primeiras turnês em solo americano, formaram a mistura perfeita para que Jimmy elaborasse o som que mudou o jeito de tocar guitarra.
Ninguém experimentou mais o instrumento (sua preferida era a tradicional Gibson Les Paul comprada de outro grande guitarrista, Joe Walsh) e seus recursos do que Page. Ele extrapolou em efeitos, programas, instrumentos e equipamentos para tornar o Led Zeppelin na banda preferida de qualquer guitarrista de rock.
Foi Page quem descobriu e utilizou com eficiência o primeiro pedal de chão, o Fuzz Box 1964, criado por Roger Mayer e de muitas outras geringonças que serviram de base para o que é feito hoje em dia. Alem do domínio completo nas técnicas de gravações, ambientações e profundidade, características únicas que tornam o som do Led em algo original e obrigatório por gerações, como podemos conferir em clássicos como Khashmir e Whole Lotta Love.
DISCOGRAFIA
LED ZEPPELIN
Led Zeppelin (1969) – Led Zeppelin II (1970) – Led Zeppelin III (1971) – Led Zeppelin IV (1973) – Houses of the Holy (1975) – Physical Graffiti (1976) – Presence (1976) – The Song Remains the Same (1976)- In Through the Out Door (1976) – Coda (1982).
THE FIRM
The Firm (1985) – Mean Business (1986)
OUTROS PROJETOS
Lord Sutch and Heavy Friends (1970) – Lucifer Rising (1972) – Death Wish II (1982) – The Honeydrippers: Volume One (1984), com Robert Plant – Whatever Happened to Jugula (1985), com Roy Harper – Outrider (1988) – Coverdale Page (1993), com David Coverdale – No Quarter (1994), com Robert Plant – Walking into Clarksdale (1998), com Robert Plant – Live at the Greek (2000), com The Black Crowes.
Leia minha resenha sobre o livro: “Luz & Sombra: Conversas com Jimmy Page”
2º Lugar: Jimi Hendrix
Jhonny Allen Hendrix – 27/ 11/ 1942 – 18/ 09/ 1970
Seattle, Washington (USA)
Muitos dizem que ele foi o melhor e mais relevante guitarrista da história do rock. Quem sou eu para discordar de algo tão obviou, tanto para um novato quanto para o mais experiente guitar man deste planeta.
Seu estilo único não se deve simplesmente ao fato de ser canhoto, mas por ter sido um revolucionário no desenvolvimento da amplificação e dos efeitos com a guitarra moderna. Jimi utilizou ao máximo a alavanca de trêmulo, patenteada pela Fender Stratocaster, que o possibilitou “entortar” notas e acordes inteiros sem que a guitarra saísse da afinação. A potencia do seu som alcançou o espaço sideral quando Hendrix conheceu o inglês Jim Marshall e seus amplificadores. Eles se mostraram perfeitos na modelagem do seu estilo pesado e saturado, habilitando-o a controlar o uso criativo do “feedback”.
Além disso, a inquietude de Hendrix foi o estopim para o surgimento de novos efeitos de guitarra. Popularizando o uso do pedal wah-wah, principalmente na clássica Vodoo Chile. Ele também teve uma relação bem proveitosa com os pedais “Axis Fuzz Unit”, o “Octavia octavia doubler” e o “UniVibe”, uma unidade de vibrato desenvolvida para simular eletronicamente os efeitos de modulação dos alto-falantes Leslie. O som de Hendrix era uma mistura única de alto volume e alta força, controle preciso do “feedback” e uma variação de efeitos de guitarra cortantes, especialmente a combinação “UniVibe”-“Octavia”, que pode ser escutada na sua totalidade na versão ao vivo de ‘Machine Gun‘ gravada pela ‘Band of Gypsys’.
Se foi realmente o melhor, é difícil dizer, mas é inegável que seu legado influencia e ainda irá contagiar uma legião de guitarrista, malucos pelo som atemporal deste gênio da guitarra.
DISCOGRAFIA
The Jimi Hendrix Experience
Are You Experienced (1967) – Axis: Bold as Love (1967) – Electric Ladyland (1968)
Jimi Hendrix/Band of Gypsys Band of Gypsys (1970)
Álbuns póstumos The Cry of Love (1971) – Rainbow Bridge (1971) – War Heroes (1972) – Loose Ends (1974) – Crash Landing (1975) – First Rays Of The New Rising Sun (1997) – Valleys of Neptune (2010) – People, Hell & Angels (2013) – Jimmy’s Back Pages: The Early Years (1992) – Hip Young Guitar Slinger (2000) – Both Sides Of The Sky (2018).
3º Lugar: Tony Iommi (Black Sabbath)
Anthony Frank Iommi – 19/ 02/ 1948
Birmighan (ING)
Provavelmente um dos nomes mais controversos desta lista, mas vamos falar a verdade, existe algo mais legal no rock do que um riff espetacularmente simples e pesado, tocados com a fúria dos cães que guardam os portões do inferno?
Tá certo, eu posso estar exagerando, ele não chega a ser um grande inovador, mas desafio qualquer um, a dizer um guitarrista capaz de compor um caminhão de riffs pesados e vigoroso como Tony. Ele é com certeza o cara que influenciou 10 em cada 10 guitarrista de metal da face da terra. Sem essa esquisita figura, o Death, Black, Trash e outras infinidades de vertentes do Metal teriam atrasado décadas, e muitas das bandas que gostamos hoje em dia, talvez não teriam nem existido.
Sem contar que o nosso amigo perdeu a falange distal dos dedos do meio e anelar em um acidente de trabalho, sendo obrigado a usar encaixes improvisados de plástico derretido nas pontas dos dedos para poder tocar a tradicional Gibson SG preta, e destilar riffs fantásticos como NIB e Iron Man.
É por essas e outras que Mr. Iommi é o meu terceiro na lista.
DISCOGRAFIA
Black Sabbath
1970 Black Sabbath / 1970 Paranoid/ 1971 Master Of Reality /1972 Black Sabbath Vol. 4/ 1973 Sabbath Bloody Sabbath/ 1975 Sabotage (álbum)/ 1976 Technical Ecstasy/ 1978 Never Say Die! /1980 Heaven And Hell/ 1981 The Mob Rules/ 1983 Born Again/ 1986 Seventh Star/ 1987 The Eternal Idol / 1989 Headless Cross/ 1990 Tyr (álbum)/ 1992 Dehumanizer/ 1994 Cross Purposes/ 1995 Forbidden / 2013 – 13/ 2016 – The End (EP)
Heaven & Hell
2009 – The Devil You Know
WhoCares
2012 – Ian Gillan & Tony Ioi: WhoCares
Solo
2000 Iommi/ 2003 – Dep Sessions (Lançamento remasterizado e oficializado do CD pirata ‘Eight Star’ de 1996) / 2005 – Fused.
4º Lugar: David Gilmour (Pink Floyd)
David Jon Gilmour – 06/ 03/ 1946
Cambridge (ING)
Alguma vez eu li, que David era o Deus do tempo e espaço da guitarra. Ninguém melhor do que ele era capaz de tocar a nota certa, no tempo certo e com a duração e beleza melódicas necessárias para congelar a espinha do mais bruto dos seres humanos.
Gilmour é com certeza um dos mais influentes guitarristas de todos os tempos, capaz de transmitir ao instrumento tudo o que ele realmente quer que seja executado, um As do Feeling.
David não era apenas dono de uma técnica perfeita, mas também um inovador no uso de efeitos sonoros na guitarra. Sua mistura indefectível de feeling e técnica, renderam alguns dos solos mais significativos da história do Rock. Recentemente, seu solo em “Comfortably Numb” foi considerado por um site especializado, como sendo o melhor solo de guitarra de todos os tempos.
David possui, dentre muitas outras guitarras, uma das primeiras Fender Stratocaster fabricadas. Com número de série da primeira linha. Pelo bom uso de sua Fender, foi lançado pela marca em 2008 uma Stratocaster em sua homenagem, batizada de “Black Strat”, na sua linha de guitarras “Artist Signature Series”. O modelo recria em detalhes, uma Stratocaster preta com escudo negro que Gilmour há muitos anos utiliza.
Como colocar o gênio de Shine On Crazy Diamonds e outras perolas do Rock de fora de um Top Five?
David Gilmour – SOLO
David Gilmour (1978) – About Face (1984) – On an Island (2006) – Live in Gdańsk (2008) – Rattle That Lock (2015) – Live At Pompeii (2017)
Pink Floyd
A Saucerful of Secrets (1968) – Music from the Film More (1969) – Ummagumma (1969) – Atom Heart Mother (1970) – Meddle (1971) – Obscured by Clouds (1972) – The Dark Side of the Moon (1973) – Wish You Were Here (1975) – Animals (1977) – The Wall (1979) – A Collection Of Great Dance Songs (1981) – The Final Cut (1983) – A Momentary Lapse of Reason (1987) – Delicate Sound Of Thunder (1988) – The Division Bell (1994) – PULSE (1995) – Is There Anybody Out There (2000) – Echoes (2001) – Metallic Spheres – (2010) – The Endless River (2014)
5º Lugar: Tom Morello
Thomas Baptist Morello – 30/ 05/ 1964
Nova Iorque (USA)
Lembra quando eu disse que um desses caras acima, seria o nome mais controverso da lista? Então… me enganei, esse com certeza ira causar a fúria dos tradicionalistas. Mas levando em consideração que a lista é minha e que tenho um grande apreço pelo inovador, nada melhor do que colocar no top 5 um dos caras que simplesmente recolocaram a guitarra nos centro das atenções, e ajudou a reescrever a história do rock atualmente.
Este abusado guitarrista não é apenas um mestre da distorção, mas ele revolucionou a maneira de tocar a guitarra moderna, utilizando equipamentos considerados simples, como os pedais Whammy e Wah-wah e guitarras customizadas por ele mesmo. Morello emulou sons de DJ´s, grupos de Hip-hop, rap e desenvolveu um estilo próprio, justamente quando todos acreditavam que já haviam feito de tudo com o instrumento.
Não é a toa que o som pesado, insinuante e politizado das guitarras de Morello não apenas derrubaram a bolsa de valores como no clipe da incendiária “Sleep now in the fire“, como influenciaram uma nova geração de guitarrista, estimulando a criação de novas sonoridades e no abuso de criatividade em seis cordas.
Quem nunca bateu cabeça com a brutal “Bulls on parade” tocada na despojada Fender Stratocaster Aerodyne, também conhecida como “Soul Power” (Poder da Alma)?
DISCOGRAFIA
Rage Against the Machine
Rage Against the Machine (1992) – Evil Empire (1996) – The Battle of Los Angeles (1999) – Renegades (2000)
Audioslave
Audioslave (2002) – Out of Exile (2005) – Revelations (2007)
Lock Up
Something Bitchin’ This Way Comes (1989)
Axis of Justice
Axis of Justice: Concert Series Volume 1 (2004)
The Nightwatchman
One Man Revolution (2007) – The Fabled City (2008) – Union Town (2011) – World Wide Rebel Songs (2011)
Street Sweeper Social Club
Street Sweeper Social Club (2009) – The Ghetto Blaster EP (2010)
Prophets of Rage
Prophets of Rage (2017)
Tom Morello
The Atlas Underground (2018) – Comandante (2020)
É o típico livro que te instiga não só a ler, mas a revisar cuidadosamente toda a obra da banda (e de Jimmy), a prestar atenção em detalhes que antes passavam despercebidos em muitas das músicas que são citadas ao longo da biografia. O que torna “Luz & Sombra: Conversas com Jimmy Page” uma obra obrigatória para roqueiros e amantes da música e suas histórias.